27.2.11

James Joyce (I): "Chamber Music"

by steve bloom [stevebloom.com]

XXXVI

Eu ouço tropas investindo sobre a terra
E o trovão de cavalos caturrando, ‘spuma entorno aos joelhos:
Arrogantes, de negros elmos, por erguê-los,
Sem nem as rédeas, com palpitantes barcos, os cavaleiros.

E choram à noite seus nomes de batalha:
Gemo em sonho ouvindo ao longe as rodopiantes risadas.
Cortam o escuro dos sonhos, ofuscante chama,
Tinindo, tinindo no peito como em uma bigorna.

Chegam agitando em triunfo os longos, verdes cabelos:
Saem do mar e correm gritando pela praia.
Meu coração, não és sábio para cair em desespero?
Meu amor, meu amor, meu amor, por que me deixaste só?



XXXVI
I hear an army charging upon the land,
And the thunder of horses plunging, foam about their knees:
Arrogant, in black armour, behind them stand,
Disdaining the reins, with fluttering ships, the charioteers.
They cry unto the night their battle-name:
I moan in sleep when a I hear afar their whirling laughter.
They cleave the gloom of dreams, a blinding flame,
Clanging, clanging upon the heart as upon an anvil.
They como shaking in triumph their long green hair:
They como out of the sea and run shouting by the shore.
My heart, have you no wisdom thus to dispair?
My love, my love, my love, why have you left me alone?


(Tradução a partir da edição eletrônica do Chamber Music de Joyce no Projeto Gutenberg. LEIA)


Não me estenderei em uma análise neste momento, apesar deste ímpeto irromper pelos meus dedos, porquanto aqui não seja a coluna ideal pra exegeses. Quero apenas comentar minhas escolhas de tradução, sujeitas ao meu parco conhecimento da língua inglesa. Assim começo a apresentar algumas traduções do Chamber Music de James Joyce, mesmo começando pelo fim, por este último poema.

Ao que me parece, numa espécie de "interseccionismo", Joyce mistura de início duas imagens: tropa de cavaleiros desembarcando numa praia; e as ondas do mar quebrando na areia. Estas ondas são sugeridas pelas aliterações e assonâncias que reproduzem os sons do trovão - também dos trotes dos cavalos - e do mar com seus chiados de espuma, efeito este que fica óbvio no quarto verso onde ele produz uma aliteração de sons fricativos, dentais e labiais, embora parelhados a alguns sons explosivos, p.ex. charioteers, que, se considerada uma possível pós-aspiração depois do /t/, coisa que creio ser dialetal dum inglês estadunidense, embora não tenha idéia alguma do dialeto irlandês, pode-se dizer que fecha perfeitamente a estrofe, somando os dois efeitos, do trovão, nas consoantes explosivas, e do mar, na fricativa /s/, na pós-aspiração e mesmo na vogal /i/ longa roticisada, num espalhar de ondas em véu pela areia mas já voltando a grandeza do mar. E voltando às imagens, este "interseccionismo" é muitíssimo apropriado, visto que os cavalos eram os animais sagrados do deus grego dos mares, Posseidon; assim, confundem-se mais ainda os cavalos e as ondas. Tentei assim reproduzir em português tal efeito com a profusão de /c/, /r/ e /t/, e com os /s/ que, se lidos em bom "carioquês", refazem, porcamente, a riqueza de fricativas do original. 

Assim fui tentando refazer os efeitos melopaicos originais através de todo o poema. Fui escrupuloso o mais que pude na metrificação e em possíveis peripécias sintáticas por rimas artificiais. Tentei a todo custo refazer o padrão rimático, mas foi infrutífero, consegui umas poucas rimas pobres, em posições diferentes. Mantive, entretanto, a proporção métrica entre os versos em relação ao original, mas ignorei a posição dos acentos porquanto visse a impossibilidade de reprodução, afinal a própria estrutura de certa forma monossilábica do inglês facilita qualquer compasso, diferente do português que acaba arriscando os grupos de força e criando certa rigidez nos versos, em certos casos.

Por último quero defender a presença da palavra caturrando que apesar de arcaísmo e de palavra técnica da navegação, indica perfeitamente o fenômeno e reproduz a idéia de plunging como afundamentos dos cavalos na água funda e seu levantar sem rédeas. O verbo caturrar, bem como to plunge em certa medida, fala do movimento de imergir e emergir da proa dos navios. Finalizando, troquei também armour por elmos, por razões métricas; considero que o prejuízo não é grande, pois a indicação da imagem aterrorizante  faz-se presente.


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James Augustine Aloysius Joyce (Dublin2 de fevereiro de 1882 — Zurique13 de janeiro de 1941) foi um romancistacontista e poeta irlandês expatriado. É amplamente considerado um dos autores de maior relevância do século XXWikipédia

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