31.7.11

Yago Hortal


silêncio da madrugada
sem vento as folhas falam
nhac      cracks     crunch
a noite            mastiga
  me                        a dia

27.7.11

no mar na língua
ela desce
onda recurva sóbria

é pois em mim
acontece
palavra sem volta

26.7.11

bigbang mosquito



zune olvido        um mosquito
e levo o elétron onde bato
some         e são muitos.mínguo
*
zune ouvido      um mosquito
atônito do átomo    :     o esmago
nuvem de fogo em nagazaki
*
pousa leve sobre            mim nem
o sinto e              suga minha vida
foi-se e a levou             consigo

nem ao menos ver quem era
só me resta          esta coceira
*
infinito peso      do        ínfimo pousado
na ponta dum alfinete      >      lupa
SOB SOL SE SOME           sob onde esconde?
*
zunem mosquitos           entorno
a mim                   curvo às luas
o espaço in tento

Allen Ginsberg (I): entre sapos, flores e mosquitos: haikubeat

Allen Ginsberg


Um sapo bóia
num jarro de farmácia:
chuva de verão nas calçadas cinzas.
A frog floating
in a drugstore jar:
summer rain on grey pavements.

Lendo haiku
eu sou infeliz,
saudade do Sem Nome.
Reading haiku
I am unhappy,
longing for the Nameless.

Olhando por cima do ombro:
minhas costas cobertas
de cereja em flor.
Looking over my shoulder
my behind was covered
with cherry blossoms.

Haiku de inverno
eu não sabia os nomes
das flores — agora
meu jardim já era.
Winter Haiku
I didn't know the names
of the flowers — now
my garden is gone.

Fantasma de minha mãe:
primeira coisa que achei
na sala do estar.
My mother's ghost:
the first thing I found
in the living room.

Estapeei o mosquito
e cadê?
Que me feito a fazer isso?
I slapped the mosquito
and missed.
What made me do that?

18.7.11

e.e. cummings


Susto!                   Acordo
sugado pelo Vácuo.
Envulto em braços,        durmo.
Há no fim do nada          o alvo
de tua pele que me abraça.

17.7.11

inverdades

f.f.
só digo verdades
até mentindo
meto os pés pelas mãos
e tiro as calças pela cabeça

depois eu danço uma dança
russa como sapo trôpego
pulo no tanque de areia
mas sai ÁGUAÁGUA

EUREKA!

haver-me

cartier-bresson

eu sou um velho matusalém
e tenho Alzheimer às avessas:
só vivo o que não mais há
e o haver-se é despercebido

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