Dave McKean |
… thy rope of sands…[1]
George Herbert (1593-1623)
A linha consta de um número
infinito de pontos; o plano, de um número infinito de linhas; o volume, de um
número infinito de planos; o hipervolume, de um número infinito de volumes…
Não, decididamente não é este, more geometrico[2], o melhor modo de começar meu relato. Afirmar que é verídico é
agora uma convenção de todo relato fantástico; o meu, no entanto, é verídico.
Eu
vivo só, em um quarto andar da Rua Belgrano. Há uns meses, de tardinha, ouvi
baterem à porta. Abri e entrou um desconhecido. Era um homem alto, de traços
embaçados. Ou a minha miopia os viu assim. Todo seu aspecto era de pobreza
decente. Estava de cinza, trazia uma maleta cinza na mão. Em seguida senti que era
estrangeiro. No princípio o achei velho; logo me dei conta de que tinha me
enganado sua escassa cabeleira loira, quase branca, à maneira escandinava. No
curso de nossa conversação, que não duraria uma hora, soube que vinha das
Órcadas[3].
Mostrei-lhe
uma cadeira. O homem demorou um pouco a falar. Exalava melancolia, como eu
agora.
—
Vendo bíblias — disse-me.