4.2.12

Pierre Garnier (ii): "Dos Poèmes Méchaniques"

Brice Bischoff


Pierre & Ilse Garnier


Luz ativa circula no poema. Participa da criação. Intervenção de densidade e volume.

As partículas lingüísticas depõem-se a si mesmas. Aparição de estratos de geologia e concreções.

Momentos. Movimentos.

Presença com valor de signos. Sensibilização da página. Impressões de velocidade, de perspectivas. Nossos tempos: a substância, força, mobilidade de signos. Ao longo da rodovia, a rua, entre nós direcionam-nos. O mundo de reflexos condicionais, de slogans, de imagens — dispensando necessidades de fala, de pensamento.

Mas signos podem também acenar a nós. Além do barulho e tagarelice que nos polarizam, devem ser um vasto silêncio onde a palavra nasce.

Dentre estes signos — letras.


3.2.12

Peter Lamborn Wilson (i): "Introdução ao Caminho Sufi"



De todas as linhas de pensamento, tradição e crença que compõem o universo islâmico, o sufismo em seu aspecto doutrinal sobressai como o mais intacto, a maior pureza islâmica: a linha central. Oponentes do sufismo freqüentemente acusam-no como tendo se originado fora do Islã, mas uma revisão minuciosa das várias escolas de filosofia e teologia, e uma comparação com o Islã “primordial” como revelado no Corão e no Hadith (discursos autênticos do Profeta Muhammad), provarão o clamor dos sufis pela centralidade, pela estrita aderência à original pureza da Revelação.

No contexto da história do pensamento, de fato, o sufismo — sempre insistindo em um retorno às fontes da Tradição — pode ser visto como para ter funcionado às vezes como uma reação positiva e saudável à atividade racional extrema dos filósofos e teólogos. Para os sufis, o caminho até o conhecimento espiritual — até a Certeza — nunca poderia ser limitado ao processo da atividade racional ou puramente intelectual, sem conhecimento sapiente[1] (zawq, “gosto”) e a experiência imediata, direta do Coração. A Verdade, eles crêem, pode ser vista e descoberta somente com o completo ser de cada um; nem estiveram eles satisfeitos meramente em saber essa Verdade. Insistem numa total identificação: um “falecimento” do conhecedor no Conhecido, do sujeito no Objeto do conhecimento. Assim, quando no quarto/décimo século, o sufi Hallaj proclamou “Eu sou a Verdade” (e foi martirizado por isso pelas autoridades exotéricas), não violou o “Primeiro Pilar” do Islã, a crença na Unidade (tawhid), mas simplesmente declarou a verdade desde a boca da Verdade. Então os sufis crêem.

Essa insistência do envolvimento total na realização “mística”, e no entendimento participativo da doutrina religiosa, distinguiu agudamente o sufismo de outras escolas islâmicas de saber. De fato, considerando eles mesmos a verdade do Islã, os sufis apareceram como marginais não somente para os filósofos e teólogos, mas ainda para os Muslims “ordinários”. Suas peculiaridades, suas distinções, manifestaram-se em vários aspectos de suas vidas: suas atividades diárias, seu culto, relações sociais, e inclusive estilo ou meios de expressão. Como místicos de todas as Tradições, eles tenderam a refazer a linguagem e a forma para seus próprios propósitos, e como em todas as civilizações Tradicionais, a potência e direcionamento de sua expressão tendeu a escoar e permear outras áreas não diretamente relacionadas ao misticismo em sentido estrito: literatura, as artes e ofícios, etc.

2.2.12

Pierre Garnier (i): "Posição I do Movimento Internacional (1963)"

kate mccgwire


Se o poema mudou
É porque eu mesmo mudei
É porque todos nós mudamos
É porque o universo mudou

Homens são menos e menos determinados por suas nações, suas classes, suas línguas-mães, e mais e mais pela função que executam na sociedade e no universo, por presenças, texturas, fatos, informação, impulsos, energias. Eles têm penetrado o espaço e já têm adaptado seus movimentos, logo suas idéias, seus nós-i[1] de vida para essa nova liberdade. Poesia transmuta-se de arte a ação, de recitação a constelação, de frase a estrutura, de música ao centro de energia. Por anos, grupos ou autores isolados, que na maior parte do tempo ignoraram-se uns aos outros e ainda tiveram consciência da humanidade que chama à vida cósmica e funcional, isto é, à metamorfose que nos conduz além do medo existencial, têm feito pesquisas em direção à poesia a qual pode ser dado o nome genérico de Espacial (que inclui conceitos de tempo, estrutura, energia):

poesia concreta: trabalhando com linguagem material criando estruturas com ela, transmitindo primariamente informação estética;

poesia fonética: baseada em fonemas, corpos sonoros de linguagem, e geralmente falados sobre todos os sons emitidos pelos órgãos vocais humanos, trabalhados em gravações e tendendo à criação de som espacial;

poesia objetiva: arranjo pictórico, gráfico, escultural e musical devido à colaboração de pintores, escultores, músicos e tipógrafos;

poesia visual: a palavra ou seus elementos tomados como objetos e centros de energia visual;

poesia fônica: o poema composto diretamente em gravação, palavras e sentenças sendo tomadas como objetos e centros de energia auditiva;

cibernética, serial, permutacional, verbofônica, poesia

>>columnéticas