9.4.12

A Nação Sitiada

Rob Sato
O que significa esse homem que aí vai pelo meio da rua, vestido de terno e carregando um galão branco semitransparente meio cheio — ou meio vazio, isto depende de otimismo — de sei lá o quê? O que significa esse homem que vai pela rua despercebido?

A vida segue, ninguém o vê, não há nada que reparar. Rua cheia, ali, além da esquina, na sede do governo, soldados, às dúzias, asseguram a visita do grande imperador que com mãos de plástico impera sobre a nação dominada, nação sitiada.

O homem para na esquina. Usa terno, mas não é executivo. Formou-se de não se formar um contemplador, monge, homem que é e basta-se. Será que se vestiu executivo para enfim deixar de ser? Ele respira fundo. Depõe o galão no chão — uma criança, sem que ninguém perceba, arrastada pela mão da mãe, percebe o homem que é, fazendo. Há na garrafa, a criança cheira, o mesmo que seu tio no verão passado colocou num tubo da caminhonete avermelhada e fuzilada de ferrugem —, deposto o galão, procura nos bolsos alguma coisa que, num gesto talvez de alívio, talvez de arrependimento, talvez de autocensura, quase não acha. Toma na mão o pequeno objeto brilhante. Daqui desta distância não posso ver muito, daqui através dos quilômetros quase nada vejo, só através daqueles que o percebem; poucos. E por que eu me deteria em sua imagem borrada, brocado de ossos, punhado de pele?

1.4.12

Conclusivo


Scott Belcastro


Eis que, certo, digo:
            com certeza
nada é perto.
— E nem isto…

Eis que, perto, digo:
            com perteza
nada é certo.
Mesmo aquilo…

Eis que, certo, digo:
com perteza
nada é perto.
Só interstício…

Eis que, perto, digo:
com certeza
nada é certo.
Só interdito…



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