26.9.13

ensaio sobre a negligência

Sobre e além de si --- o olho além. Aparenta a presença do que evidencia a mesma natureza daquele que olha naquilo que vê --- OVERLOOK. A palavra é o mirante de onde aquele que é (por se saber sendo?) integra a paisagem. O saber de si que se olha e se sente, se levado às últimas consequências, é o saber do além, do fora-de-mim, da paisagem que constitui tudo que não me é. A consciência de mim é a consciência da minha morada no mundo. Overlook é o esgotamento da visão na pura imanência, é o esgotamento de si no mundo. É olhar pra fora, sair. É ponto de vista, mirada. É pular, deixar, esquecer --- a negligência.

A coisa opaca, a que se reveste de afetação, de linguagem, só pode ser superada, ter seu foco ajustado, na negligência de si, i.e., na transposição de mim em paisagem. Só posso saber do mundo (e dizê-lo já não é sabê-lo) se não sei de mim, se não tenho ideia de mim. A ideia ajusta a coisa ao usufruto da comunicação --- usura da língua. Sua causa opaca serve a uma ideologia --- necessariamente. Isto, comunica, faz rarefeita a coisa genérica. Opaca, sem profundidade de campo, é a coisa de que sabemos: nós mesmos. Quantas ideias temos do que somos? Saber verdadeiramente é não poder dizer nada a respeito do que se sabe. Isto é poder, exercício de existência, habitação --- OVERLOOKING.

9.9.13

andaime

e o valescuro avoluma lá em baixo
penduro-me à caça d’ ovos de jade
eis que os grifos não carecem de calço
e se à sua toca a minha mão invade
pede outra mão pro pesado ovo
mas se solto a corda ao globo agarrar
— de cor meu coração a cor evade —
caio abismo abaixo a ver o novo
e o uno modo do impasse escapar
é de volta acima puxar meu corpo

2.9.13

inquietações

Na distância do que vejo há um borrão. Embora próximo, não o distinguo, vai embora a determinação das coisas. Isto que vejo, parece demasiadamente humano, mas sem nenhuma vida, porque permanece por horas sem nenhum movimento. Agora mexeu! Será que foi em mim, algo em meu olhar que não suporta contemplar humanidade tão morta? A cada olhar uma saturação diferente no preto & branco dessa figura, intocável. Inalcançável exceto por lentes de luneta, binóculo ou coisa parecida que a descubra, mas hesito. Desfazer a paixão patológica (pathé) que me afeta o afago disto, o que me move e instaura a potência e a virilidade da maior capacidade humana (fantasia), é destruir a vida, intriga que brota florestal por neurônios.

Cada vez mais uma mulher, suave neste frio. Cabelos negros e pele branca. Mulher de imaginação. Há algo inevitável na mente: encaixar cada coisa que se vê no banco de dados que resguardamos deste os primeiros neurônios ligando-se na barriga da mãe, esta mulher. Sempre há algo de familiar em cada mulher que vejo, em cada centímetro de mundo, sinto no fundo a projeção de mim, porque tenho por força o impulso de desfazer a imediaticidade do real para sabê-lo além dele mesmo, além de mim. Preciso destruir-me. Na dissolução de mim haverá algo além: eu-total sendo mundo.

Ela continua lá. Imóvel. Não me contenho e saco do binóculo: nada além da ampliação da dúvida. Quanto mais se contempla, quanto mais fundo, quanto mais do menos, do menor se pode ver, mais nos damos conta de que sabemos menos. Ainda bem. Continuo vivo.

28.8.13

EUREKA!

Toda resposta é provisória. Mas existem algumas verdades permanentes.

— Tipo...?

Toda resposta é provisória.

>>columnéticas