2.9.13

inquietações

Na distância do que vejo há um borrão. Embora próximo, não o distinguo, vai embora a determinação das coisas. Isto que vejo, parece demasiadamente humano, mas sem nenhuma vida, porque permanece por horas sem nenhum movimento. Agora mexeu! Será que foi em mim, algo em meu olhar que não suporta contemplar humanidade tão morta? A cada olhar uma saturação diferente no preto & branco dessa figura, intocável. Inalcançável exceto por lentes de luneta, binóculo ou coisa parecida que a descubra, mas hesito. Desfazer a paixão patológica (pathé) que me afeta o afago disto, o que me move e instaura a potência e a virilidade da maior capacidade humana (fantasia), é destruir a vida, intriga que brota florestal por neurônios.

Cada vez mais uma mulher, suave neste frio. Cabelos negros e pele branca. Mulher de imaginação. Há algo inevitável na mente: encaixar cada coisa que se vê no banco de dados que resguardamos deste os primeiros neurônios ligando-se na barriga da mãe, esta mulher. Sempre há algo de familiar em cada mulher que vejo, em cada centímetro de mundo, sinto no fundo a projeção de mim, porque tenho por força o impulso de desfazer a imediaticidade do real para sabê-lo além dele mesmo, além de mim. Preciso destruir-me. Na dissolução de mim haverá algo além: eu-total sendo mundo.

Ela continua lá. Imóvel. Não me contenho e saco do binóculo: nada além da ampliação da dúvida. Quanto mais se contempla, quanto mais fundo, quanto mais do menos, do menor se pode ver, mais nos damos conta de que sabemos menos. Ainda bem. Continuo vivo.

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